segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021


 A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria

sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,

e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,

e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Ás vezes, um galo canta.

Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,

outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,

finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Meireles


O ano de 2020 foi um ano de muita resiliência. A Covid-19 afetou intensamente nossas vidas, fazendo com que mudássemos nossos hábitos e nossa forma de olhar para o mundo. Tivemos que nos reinventar e readaptar a essa nova realidade, a qual nos impediu de trocar abraços com as pessoas que mais amamos.

Assim, começamos a olhar a vida de um jeito diferente, a valorizar um abraço, um momento alegre com a família e amigos e a ver a natureza como um bem precioso.

Na escola não foi diferente, o ensino remoto foi adotado às pressas na quarentena, desafiando professores e alunos, que passaram a se ver pela janela da tela do computador.

Enquanto essa pandemia não passa, espero que esse poema faça parte de nossas vidas, a fim de que valorizemos as pequenas coisas da vida responsáveis por nos trazer felicidade.

Que neste ano de 2021 compartilhemos muitos bons momentos!

E você, já olhou a sua janela hoje?


Confira o podcast feito pela aluna Manuela de Paula, do 8º ano A, sobre a autora Cecília Meireles.



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